Setembro Amarelo : especialista em saúde mental alerta sobre o suicídio

Setembro Amarelo : especialista em saúde mental alerta sobre o suicídio

Paulo Aguiar, psicólogo e professor da Faculdade IDE, comenta as principais causas que levam uma pessoa a tirar a sua própria vida e orienta como a família pode ajudar


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Segundo o Ministério da Saúde, por ano, cerca de 800 mil pessoas tiram as suas próprias vidas em todo o mundo. No Brasil, o número é de 11 mil pessoas, sendo a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. Em Pernambuco, mais de 300 pessoas desistem de viver anualmente, o que o torna o décimo estado brasileiro com mais casos. O primeiro boletim epidemiológico de tentativas e óbitos por esse tipo de morte, divulgado em setembro de 2017, também pelo Ministério da Saúde, revela ainda que, de 2011 a 2015, foram registrados 1.688 casos em terras pernambucanas.

Para combater os números alarmantes, setembro ficou “amarelo” para conscientizar as pessoas a prevenção do suicídio e alertar sobre essa realidade em todo o mundo e suas formas de combate. Por muito tempo, o suicídio foi visto como tabu e as pessoas que cometiam tal ato eram consideradas como fracas e covardes, mesmo tendo chegado a tal extremo movido pelo desejo de libertação. Não falar sobre o assunto ou julgar quem perdeu a vontade de viver não é o caminho, é preciso trazer esse tema à tona para ajudar quem precisa de apoio, identificando quando quem está perto está desistindo da vida.

Paulo Aguiar, conta que não existe características suicidas, pois cada caso tem suas particularidades a partir das suas experiências de vida. “Porém, algumas falas podem ser observadas, que apontem para uma tentativa de pôr fim a vida. Assim, é fundamental uma atenção especial quando ouvimos determinadas expressões que apontem para isso”, explica o docente.

Os membros da família são peças fundamentais para ajudar uma pessoa com pensamento suicida, pois a proximidade fará esses entes perceberem com mais facilidade os primeiros sinais de que há algo errado. “A família precisa estar atenta aos comportamentos dos seus membros. Isolamento, pouca interação e falas que apontem para acabar com a vida devem ser investigadas. A família é fundamental nesse processo”, aponta.

As causas que levam uma pessoa a tentar contra a própria vida, na maioria das vezes, estão ligadas a patologias, mas não são as únicas razões que levam as vítimas a consumar tal pensamento. “A depressão, a esquizofrenia e alguns transtornos de personalidade podem levar o sujeito a tentar o suicídio. Porém, é importante perceber que outros fatores podem levar às tentativas de suicídio que não sejam apenas a partir de um transtorno mental. As condições socioeconômicas e culturais podem influenciar diretamente nestes casos”.

Paulo Aguiar traz três exemplos de casos em que o suicídio não está associado a problemas mentais. O primeiro é o do Grécia, onde os efeitos das políticas econômicas implantadas no país provocaram dificuldades financeiras ao povo daquela nação. “Isso elevou o número de suicídios naquele país sem nenhuma associação com algum transtorno mental, mas fruto de uma mudança radical na economia”, conta.

Outro exemplo é o dos povos indígenas do Brasil. “Um estudo realizado pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO) apontou o elevado número de suicídio nas populações indígenas dos estados do Amazonas e Mato Grasso do Sul, principalmente pelo processo de aculturação desta população. Fato curioso e estarrecedor é que a faixa etária principal dos sujeitos que cometem suicido dentro da população indígena está compreendida entre 10 e 19 anos, segundo os estudos da FLACSO”.

E o terceiro caso destacado pelo psicólogo é o do município de Itacuruba, localizada no sertão pernambucano. “A cidade tem uma taxa de suicídio dez vezes maior que a média nacional. Inundada pela hidroelétrica de Itaparica, a população precisou mudar de cidade e isso causou muitos problemas”.

Há uma compreensão de que o uso de drogas ilícitas é também uma das causas que levam um indivíduo a tentar contra a sua própria vida. “Em relação ao uso de drogas, a literatura aponta que as mortes associadas a dependência estão associadas ao tráfico e a ilegalidade de algumas substâncias. As tentativas de suicídio podem acontecer, mas associadas a alguma psicopatologia”, explica.

SAÚDE MENTAL E PREVENÇÃO – Além de ajudar quem precisa de apoio e não deixar que esse assunto continue sendo tabu, é preciso cuidar da saúde mental. “Cuidar da saúde mental não se resume a um trabalho pessoal apenas, a ideia de saúde mental está associada a um conjunto de condições, como trabalho, moradia, renda, uma cidade acessível, opções de lazer, cultura, práticas esportivas, educação de qualidade, trânsito e outras coisas que compõem o dia a dia das pessoas na sua relação consigo mesmo e com os outros num determinado espaço territorial”, orienta Paulo Aguiar.

“Penso que cuidar da saúde mental e poder observar estes aspectos, pois senão dirigimos nossa atenção única e exclusivamente para o sujeito e podemos cair no erro de ‘patologizar’ apenas a situação vivenciada individualmente sem levar em consideração as diversas condições que podem contribui para vivenciar o sofrimento e tentar cometer o suicídio”, finaliza o professor sobre a importância de cuidar da saúde mental.