Festival de Cinema de Gramado 2018
Mostra de curtas brasileiros
A noite de terça-feira (21.08.18), com duas exibições de curtas-metragens brasileiros, marca a chegada da mostra de curtas à sua metade. Até a segunda-feira, seis obras haviam sido exibidas, do total de 14.
Quem abriu a competição foi “Um filme de baixo orçamento”, que conta a história de um instituto de ciências que está perdendo o financiamento e seus integrantes decidem fazer um filme para tentar salvar a organização. As dificuldades da produção do filme começam então a surgir e ironizar o processo de realização do próprio curta-metragem em si. “É um filme que se autoreferencia o tempo todo. Trabalhamos sobre a história de um pessoal que está com dificuldades para fazer um filme, sendo que a gente tem as nossas próprias dificuldades de realização do curta”, conta Paulo Leierer, roteirista e diretor.
A coprodução Brasil e França, “Guaxuma” foi a primeira animação a ser exibida, e reúne três técnicas diferentes com base de areia. “É todo artesanal. A história é bem pessoal minha, da minha relação com a praia que nasci e da minha relação com uma grande amiga que tive lá”, revela a diretora Nara Normande.
O filme foi lançado no festival Anima Mundi, o mesmo no qual estreou também “Plantae”, que depois disso passou por quase 40 festivais no mundo todo, acumulando um total de 19 prêmios. O diretor e animador Guilherme Gehr tentou fazer uma abordagem realista sobre o um problema atual, para em seguida apresentar uma resolução fantástica de efeito: “Eu falo sobre uma impressão que tenho a respeito das consequências do desmatamento através de uma fantasia”, revela.
Na mesma noite de exibição de “Plantae”, outra produção provocativa sobre a relação entre ser humano e meio ambiente, mas com foco sobre os indígenas e as questões contemporâneas que cercam os povos originários foi exibida. Carregando como título o nome de sua personagem principal, “Majur” é um documentário mato-grossense que conta a história de um chefe de uma aldeia transgênero, no sul do Mato Grosso. “Gravamos em segredo para não envolver a família dela nem a aldeia, por ser um tema um pouco complicado, principalmente dentro da cultura indígena”, revela o diretor, Rafael Irineu. Mas após o lançamento da obra, em um festival de cinema LGBT, houev receptividade. “Hoje não há mais segredo, nem sobre o curta-metragem e nem sobre a orientação sexual de Majur”, destaca o diretor, que salienta a importância indiscutível de se tratar sobre o tema.
Outro curta-metragem com trajetória em festivais é o drama “Minha Mãe, Minha Filha”, que enfoca uma família que precisa lidar com a doença de Alzheimer da matriarca, apostando no amor para resgatar memórias que se perdem. O elenco inclui as atrizes Eva Wilma e Helena Ranaldi. O diretor Alexandre Estevanato conta que a ideia para o projeto veio de sua mulher, a roteirista Cintia Sumitani, que, no púlpito di 46º festival de Cinema de Gramado, o dedicou “a todas as mulheres que, por senso de obrigação ou responsabilidade, abdicam de suas próprias vidas para cuidar dos outros”.
Alexandre defende o potencial da sétima arte para mudar o pensamento de seu público e acredita que a presença no Festival de Gramado é uma boa oportunidade. “Além de entretenimento, o cinema tem como função gerar reflexão. Então pretendemos com o filme provocar debate sobre a doença”, ressalta o diretor.
Encerra a lista de exibições de curtas até agora “Aquarela”, co-dirigido por Thiago Kistensmacker e Al Danuzio. A obra retrata o que acontece com a família de um detento, a partir da perspectiva da personagem de Ana, a mulher do presidiário. “Foi um desafio muito grande porque são histórias reais, fizemos uma pesquisa sobre essas mulheres. Um diferencial de ‘Aquarela’ é estarmos olhando para a esposa do detento e não apenas a história dele no presídio, porque às vezes quem está encarcerado é a família inteira”, ressalta Luna Gandra, produtora e protagonista do curta.
Na noite desta terça-feira (21), a cineasta gaúcha Mirela Kruel apresenta o documentário “Catadora de gente”. O filme se debruça sobre a realidade dos catadores de lixo a partir da perspectiva de Maria Tugira Cardoso, que há 30 anos se dedica à atividade. O outro filme “A Retirada Para Um Coração Bruto”, de Marco Antonio Pereira, chega de Minas Gerais, e aborda a solidão na terceira idade a partir de uma narrativa fantástica sobre um evento que muda a pacata vida de Ozório.
Mostras competitivas no Palácio dos Festivais, às 18h
CMB | Catadora de gente, de Mirela Kruel
LME | Mi Mundial, de Carlos Morelli
CMB | A retirada para um coração bruto, de Marco Antonio Pereira
LMB | Ferrugem, de Aly Muritiba
Edson Celulari: “De mãos dadas com o Oscarito, ninguém me segura”
Os 40 anos de carreira – com grande reconhecimento popular – não prepararam o ator Edson Celulari para a emoção de receber o Troféu Oscarito no 46º Festival de Cinema de Gramado. Depois de desfilar pelo tapete vermelho, recebendo o carinho do público que enfrentou a chuva e o frio, e subir ao palco sob aplausos e ao ritmo de samba – com direito a um passista relembrando seu personagem na versão cinematográfica de “A Ópera do Malandro” – Celulari emudeceu ao chegar ao púlpito. Só após alguns segundos, com o fôlego retomado, agradeceu ao evento e ao carinho da recepção: “Que noite fria, que noite quente! É emocionante estar aqui”.
Não era para menos, como o próprio ator fez questão de salientar: “Tenho 40 anos de carreira, e quando comecei, esse festival já era uma referência”. De fato, em 1981, quando Celulari recebeu o prêmio de melhor ator no festival de Brasília, em sua estreia no cinema com “Asa Branca”, o evento na serra gaúcha já tinha quase uma década de existência. “O cinema me aproxima aqui do sul, onde tenho grandes parceiros e amigos com quem trabalho, como o Paulo (Nascimento, diretor) e Léo (Machado)”, explicou.
Foi a deixa para o apresentador do Festival, que atuou a lado de Celulari em “Teu mundo não cabe nos meus olhos”. Léo Machado pediu licença ao protocolo para prestar sua reverência pessoal ao companheiro de trabalho. “Um grande homem, um exemplo de lutador… meu amigo!”, disse.
Outra mensagem recebida por Edson Celulari no palco foi da também colega de elenco de “Teu mundo…”, a atriz argentina Soledad Villamil. “Um grande ator, generoso, companheiro, que sabe contar piadas. Esse prêmio é mais que merecido”, defendeu, em vídeo exibido no telão do cinema.
Celulari, por sua vez, prometeu “mais 40 anos” de trabalho dedicado ao cinema e à dramaturgia em geral. “Agora, de mãos dadas com o Oscarito, ninguém me segura”, assegurou.
De ator a diretor
Os planos para o próximo período, entretanto, incluem não só novos projetos como ator, mas sua primeira experiência como diretor de um longa-metragem. A estreia será com um texto do amigo e companheiro de outros trabalhos, o gaúcho Paulo Nascimento, com quem Edson Celulari está finalizando o roteiro de “Atlântico-Pacífico”.
“É uma história de pai e filha que nunca foram muito próximos e decidem fazer uma viajem de carro do Rio Grande do Sul até o Chile, passando por Uruguai e Argentina”, revela. “Mais do que isso não posso contar; ainda estamos no início”, completa.
Não será, entretanto, sua primeira experiência atrás das câmeras, pois Edson Celulari já dirigiu um curta-metragem: “Cinzas”, que, embora filmado nos Estados Unidos, foi finalizado no Rio Grande do Sul.
“O Banquete” cancela exibição no Festival de Gramado
A primeira sessão pública do filme “O Banquete”, que seria realizada na quarta-feira (22.08.18), dentro da mostra competitiva do 46º Festival de Cinema de Gramado foi suspensa pela diretora Daniela Thomas. O longa retira-se da disputa no evento. O roteiro de “O Banquete” inspira-se em eventos recentes da história do País. Entre eles, uma carta aberta como a publicada por Otavio Frias Filho, nos anos 90, dirigida ao então presidente do Brasil.
Em virtude da morte do editor, anunciada nesta terça-feira (21), e com o objetivo de respeitar este momento de luto da família, a diretora decidiu retirar o filme da competição.
“Sinto muito pela perda de Otávio e me solidarizo com a família, com seus amigos e funcionários. Foi um grande publisher, um intelectual admirável e tinha muito ainda a contribuir com o País”, afirma Daniela. “O momento é inoportuno para o encontro de ficção e realidade e as possíveis interpretações equivocadas que a ficção pode suscitar. Por isso retiro o filme do festival”, completa.
A produtora Cisma e a distribuidora Imovision acataram o pedido da diretora da suspensão da exibição.
Ancine anuncia em Gramado critérios de seleção do Edital de Produção para Cinema
O diretor-presidente da ANCINE, Christian de Castro, fala à imprensa nesta terça-feira, 21 de agosto, sobre os principais pontos do novo edital de fomento à produção cinematográfica. A conversa acontece com jornalistas credenciados no 46º Festival de Cinema de Gramado.
A Chamada Pública, que será aberta no dia 3 de setembro, disponibiliza recursos financeiros no valor total de R$ 150 milhões do Fundo Setorial do Audiovisual.
O edital criou novas regras para a seleção de projetos de produção de longas-metragens. O processo seletivo será feito com base em critérios de pontuação calculada de forma automática. Serão avaliados o diretor, o desempenho comercial e o histórico de entrega da produtora, a qualificação da distribuidora e o desempenho artístico.
Bate-papo com Oswaldo Montenegro aproxima crianças do cinema
A exibição de “A Chave do Vale Encantado”, quarto longa-metragem dirigido por Oswaldo Montenegro, no 46º Festival de Cinema de Gramado é uma oportunidade de aproximar as crianças do cinema.
O filme faz sua estreia mundial na mostra infantil do evento, com projeção marcada para as 9h da manhã de quarta-feira (22), no Palácio dos Festivais. A entrada é franca.
Após a exibição do filme, o festival promove um bate-papo entre o público e o diretor, que é presença confirmada em Gramado. “É um filme para toda família, uma obra que vai aproximar os pais dos filhos”, adianta o diretor, que tem longa carreira como músico e assina também o roteiro do longa, adaptado de um livro igualmente de sua autoria.
“A Chave do Vale Encantado” propõe uma desconstrução de icônicos personagens dos contos de fada, como Rapunzel, Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho que começam a refletir sobre o mundo real, traçando um paralelo entre fantasia e realidade.