Poupar mais, o Brasil depende de você
por Aécio Schröder da Silveira*
Uma pesquisa nacional encomendada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que o consumidor brasileiro não tem o hábito de poupar dinheiro e, quando poupa, é para consumir ainda mais e não para formar um fundo de reserva. Além disso, o estudo revela que, entre aqueles que têm o hábito de guardar dinheiro, a maioria tem perfil conservador e prefere investimentos mais seguros, que não ofereçam muitos riscos, como a caderneta de poupança.
Para especialistas, reverter esse quadro de baixa poupança ganhou urgência em meio ao atual contexto. Há, ao mesmo tempo, a proposta de reforma da Previdência, que endurece as regras para acesso ao benefício em relação às atuais, taxas recordes de desemprego, que reduziram drasticamente o número de trabalhadores com carteira assinada e que contribuem para a Previdência, e a necessidade de impulsionar investimentos para o país voltar a crescer.
Os pesquisadores perguntaram a um grupo de consumidores quantos deles conseguiram poupar alguma quantia no mês anterior. A maioria dos entrevistados (54%) afirmou que não conseguiu guardar qualquer quantia, 42% disseram que conseguiram juntar alguma coisa e 3% não souberam responder. Para a economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, o brasileiro é historicamente conhecido por poupar pouco. “Os motivos que fazem com que o brasileiro tenha uma das menores taxas de poupança do mundo são culturais. Na China, por exemplo, a taxa de poupança é mais que o dobro da [taxa] brasileira. O chinês poupa 30% do seu salário”, afirma.
Poupar para a velhice para além do benefício concedido pelo INSS é privilégio de poucos no Brasil — realidade que leva o país à lanterna de uma lista de dez nações. Temos o menor percentual de população acima de 15 anos que declara economizar para a aposentadoria, atrás de Argentina, Índia, Chile, Rússia, Colômbia, África do Sul, México, Portugal e Alemanha.
O diagnóstico está em artigo do economista José Roberto Afonso, da Fundação Getulio Vargas (FGV-Rio), a partir de estudo do Banco Mundial.
No Brasil, só 4,7% dos 60% mais ricos guardam dinheiro para esse fim. E, entre os 40% mais pobres, a participação cai a menos da metade, para 2,1%.
Ficamos em má posição até quando comparados a uma média de 31 países de baixa renda, em que 10,2% dos mais ricos e 5,6% do mais pobres poupam para o momento em que saírem do mercado de trabalho.
A Educação Financeira tem este propósito, procurar levar informações que acarretem mudança de comportamento e, quebrem este paradigma cultural do brasileiro que não tem um espírito poupador. Será que não podemos amadurecer e termos visão de vivermos com sustentabilidade, sermos menos consumistas e, viver o hoje mas, com responsabilidade para não comprometermos nossa vida na meia idade e velhice. Como conquistaremos a posição de grande nação sem boa taxa de poupança interna? Os exemplos acima mostram isso. Poupamos menos que países com potencial econômico muito aquém do nosso, então, não chegaremos a ser àquele país do futuro que tanto almejamos, senão assumirmos individualmente nossas responsabilidades financeiras e transmitirmos isto para nossos filhos.
Aécio Schröder da Silveira
Bacharel em Administração de Empresas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Ciências Jurídicas e Sociais pela PUC/RS, Pós Graduado em Marketing, UFRGS e em Gestão Pública pela Escola do Ministério Público do RGS. O servidor do Ministério Público do Rio Grande do Sul e Educador Financeiro faleceu em 9 de setembro de 2020.
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