Cassinos no Brasil
Se está lendo esse artigo, tenha presente que não estamos fazendo campanha política. A liberação dos jogos de azar é um tema polêmico, que atinge sensibilidades e pode dar origem a uma discussão interminável. Literalmente: você sabia que tem um projeto tramitando na Câmara de Deputados desde 1991 sobre esse tema ? Com a apresentação de um novo projeto em 2014, esse ficou ainda mais esquecido, mas continua por lá.
Tramitando na casa desde 2014, a proposta justificava que a regulamentação das práticas poderia render cerca de R$ 15 bilhões em arrecadação para os estados. Ao todo seria liberada a exploração de bingos, jogo do bicho, videojogo e outras modalidades de apostas. Segundo a proposta, era necessário um cadastro prévio para que um estabelecimento recebesse a autorização para prática dos jogos. Para licenciamento das máquinas de videobingo e videojogo e de sistemas eletrônicos online de jogos de fortuna em geral, seria obrigatória a emissão de laudo técnico por laboratórios independentes especializados.
O que queremos analisar é se está acontecendo alguma transformação social mais favorável a uma legalização dos jogos de azar, ainda que parcial. Tem dois sinais importantes de que isso está acontecendo sim, e não dois sinais abstratos ou teóricos: são dois políticos bem concretos falando desse jeito, quando se esperaria o contrário.
A origem da proibição
Diz a lenda que o presidente Eurico Dutra foi influenciado por sua esposa, Carmela Dutra, e por sua grande religiosidade, na hora de assinar a proibição dos cassinos em 1946. O certo é que a continuação da proibição vem sendo, principalmente, um objetivo dos setores mais conservadores e religiosos da sociedade brasileira, em defesa de seu conjunto de valores. Isso é um fato, independente de o leitor pretender mais Deus, Pátria e Família para o Brasil ou de apostar em uma luta de classes ou algo com outra inspiração política. Ou qualquer que seja seu ponto de vista.
Para este setor da sociedade, o fato de qualquer brasileiro poder acessar jogos de cassino através das plataformas que pode encontrar no Cassinos Brazil é perturbador. A internet, dando aos brasileiros uma forma de “viajar até Las Vegas” sem sair do lugar (pois é claro que esses sites são internacionais, e operam com base em outros países), veio criar uma espécie de distopia impensável no tempo de Dona Carmela.
Políticos estão desistindo ?
Daqui resulta que os principais políticos da área mais de direita deverão ser os principais defensores da continuação. E eles estão conseguindo isso mesmo, até o momento; a rejeição do 186/2014 pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em março desse ano, foi um sinal claro de que tem muitos senadores prontos a votar contra a jogatina.
Mas fora do Congresso, podemos ver que dois dos principais símbolos da área conservadora da política brasileira estão aceitando (ou se conformando?) com o “avanço” dos jogos de azar. Primeiro foi Marcelo Crivella, certamente desapontando muitos “fãs” e até eleitores em seu Rio de Janeiro.
O “prefeito da Universal” poderia ser um dos principais combatentes contra o jogo, que representa um verdadeiro pecado. Entretanto, já por duas vezes Crivella recebeu em sua “casa” o “Satanás dos cassinos” a nível mundial. Seu nome é Sheldon Adelson e a revista Forbes considera ele o 21.º homem mais rico do mundo; os cassinos são sua atividade e Las Vegas sua base. Não cai bem a declaração de Crivella dizendo que falou de “investimento imobiliário” com Adelson, pelo menos para quem está contra isso.
Mais recentemente foi Jair Bolsonaro, declarando que, se for presidente, tentará arrumar “uma saída” para a questão da liberação dos jogos de azar. Mesmo se “é contra, por princípio.” Até pode ser contra e talvez o Brasil não veja o jogo do bicho liberado se ele for presidente, mas se fosse realmente contra, isso nem seria discussão.
Se esses dois símbolos da área conservadora falam e atuam desse jeito, não será que a liberação dos cassinos está mesmo próxima?