Domingo (19.08.18) no Festival de Cinema de Gramado 2018

Festival de Cinema de Gramado 2018 - Foto Edson Vara -PressPhoto
Festival de Cinema de Gramado 2018 – Foto Edson Vara -PressPhoto

Festival de Cinema de Gramado

Isis Valverde chega em Gramado, doze troféus revelarão os melhores entre os curtas gaúchos, Carlos Saldanha fala sobre a carreira, Marieta Severo mergulha no lado B de São Paulo em “A voz do Silêncio”, Jesuíta Barbosa diz que “um desafio que eu queria e lutei para conquistar” sobre “O Grande Circo Místico” e apresentação dos filmes Plantae, Majur e Mormaço nas Mostras competitivas.
Famosos em Gramado
Quem chega domingo em Gramado
:: ISIS VALVERDE – SIMONAL
:: CACO CIOCLER – ator SIMONAL
:: MAX DE CASTRO – trilha SIMONAL
:: HERNAN GUERSCHUNY – diretor RECREO
:: JAZMÍN STUART – diretora RECREO
:: FACUNDO CAMPELO – ator MI MUNDIAL
:: LUCIA GAVIGLIO – produtora MI MUNDIAL
:: VERONICA PERROTA – atriz MI MUNDIAL
:: NESTOR GUZINNI – ator MI MUNDIAL
:: MARCOS LOAYZA – diretor AVERNO
:: SANTIAGO LOAYZA – ator e produtor AVERNO
Doze troféus revelarão os melhores entre os curtas gaúchos
Os primeiros vencedores do 46º Festival de Cinema de Gramado serão conhecidos nesta noite de domingo (19). Após o intervalo da sessão noturna no Palácio dos Festivais (que na primeira parte terá a exibição de um longa e dois curtas nacionais), os apresentadores Marla Martins e Roger Lerina revelam os filmes premiados em 12 categorias – serão onze troféus Assembleia Legislativa e o prêmio da crítica especializada.
Ao todo, serão distribuídos R$ 48 mil em dinheiro aos vencedores, e o melhor filme recebe ainda um crédito de R$ 10 mil para utilizar em locação de equipamentos da Naymar. A trilha sonora da cerimônia de premiação será executada ao vivo pela banda Ale Ravanello Blues Combo, que fará show também após a entrega dos troféus.
Carlos Saldanha
Acostumado com a escala grandiosa de tudo o que envolve Hollywood – enormes sucessos de bilheteria, cifras de arrecadação altíssimas, superproduções, prazos e pressões, e bajulação correspondente – o homenageado com o troféu Eduardo Abelin no 46º Festival de Cinema de Gramado, Carlos Saldanha, passou tarde e noite de sábado (18), reafirmando a singularidade de receber um prêmio em seu país natal.
“Ah, que coisa boa isso aqui”, exclamou ao chegar ao púlpito. “Fiz minha carreira praticamente lá fora, então ganhar um prêmio no Brasil tem um gostinho muito especial”, agradeceu, no palco do Palácio dos Festivais.
Ao longo da entrevista coletiva que concedeu ainda durante a tarde, Saldanha deixou explícito o desejo constante de reforçar os laços com o Brasil. Vivendo em Nova Iorque há 25 anos (ele foi para passar três meses, estendeu o prazo para dois anos e logo foi contratado pelo Blue Sky Studios), está constantemente pensando projetos que o aproximem da terra natal. A primeira brecha veio na esteira do sucesso de “A Era do Gelo” (2002), que codirigiu ao lado de Chris Wedge.
Aproveitando o bom momento, propôs um projeto com a cara do Brasil para o estúdio Fox. “Eu disse: no Brasil tem música, cor, tudo o que é preciso para uma boa animação”, lembra. Era o embrião do sucesso internacional “Rio” (2011), que, entretanto, ainda teve que esperar antes de sair do papel. “Eles toparam, mas disseram que antes precisaria fazer A Era do Gelo 2 e 3”, revelou.
Assim foi, e com as sequências do filme original, Saldanha ganhou ainda mais prestígio, pois assumiu a condução completa do projeto, que foi sucesso internacional de bilheteria, arrecadando quase um bilhão de dólares ao redor do mundo.
Chegou, então, a vez de “Rio”, e ele fez questão de ambientar toda a equipe no Brasil para contar a história de Blue, um pássaro nativo que deixou o país muito cedo e precisa voltar. “Fizemos todo o percurso do Blue juntos, saímos dos Estados Unidos e viemos”, recorda. Na capital fluminense, onde Saldanha nasceu, a equipe se aventurou da mesma forma que Blue, na telona. “Fizemos aula de samba para conseguir animar os personagens, saltamos de asa delta – mesmo contra a vontade do estúdio, que não queria se encarregar do seguro”, revela.
Recentemente também decidiu se aventurar pela ficção live action (ou seja, com atores de carne e osso e não desenhos animados) em um projeto que, uma vez mais, mirou a pátria distante. “Cidades Invisíveis”, série de oito episódios feita para a Netflix tem como fundo temático o folclore brasileiro. “Estou muito feliz, pois é uma produção 100% brasileira, com roteiristas, atores, toda a equipe daqui”, celebra.
Ele também revela ter planos de produzir mais animação. “Sempre temos dois projetos andando juntos, para ver qual o que se confirma. No momento, estou trabalhando em uma história original própria e em uma sequência. Vamos ver qual será a vitoriosa”, provoca.
Na conversa com jornalistas realizada durante a tarde de sábado, no Museu do Festival, Carlos Saldanha revelou que conheceu não só Gramado, “mas todo o Rio Grande do Sul”. Quando era criança, morou durante dois anos em Alegrete, na fronteira com a Argentina. A cada viagem de volta para a cidade natal, a família escolhia o automóvel como veículo e traçava rotas diferentes para poder visitar todos os lugares possíveis. “Demorávamos três dias até chegar”, recorda.
Entre outras localidades, passou por Gramado, que tinha aspecto totalmente diferente meio século atrás. “Hoje está grande, desenvolvida, graças também a este festival de cinema maravilhoso e tradicional”, elogia.
Também foi a influência da família que o levou a decidir cursar informática na faculdade, embora gostasse de desenhar e tivesse inclinação para a carreira de belas artes. “Meu pai disse que isso tinha que ser hobby, não profissão. Mas eu gostei muito do curso, me empenhei mesmo”, prossegue.
E foi graças ao curso universitário que ele, anos mais tarde logrou uma vaga no Blue Sky Studios, depois de ter ido aos Estados Unidos fazer uma especialização de três meses em animação gráfica, que se transformou em mestrado e finalmente, em ocupação profissional. “Na minha aula havia muitos artistas talentosíssimos, mas naquela época o computador não era popular. Então quem sabia mexer um mouse tinha emprego certo”, relembra.
Entre suas referências iniciais, ele cita Hans Donner, que o fez ver que era possível unir arte à computação gráfica. Saldanha também se rasgou em elogios a Otto Guerra, animador do Rio Grande do Sul que recebeu o mesmo prêmio Eduardo Abelin no ano passado. “O Otto é ótimo”.
Em retribuição, o gaúcho preparou uma sequência com imagens de seus filmes projetada no telão do Palácio dos Festivais durante a homenagem à Saldanha. Mas o que “As cobras”, “Rocky e Hudson, os caubóis gays” “Wood & Stock” queriam, era emprego em Hollywood e pediam ao homenageado que intercedesse em seu favor – brincadeira levou o público do festival às gargalhadas, enchendo a plateia com o bom humor da animação.
Em “A voz do Silêncio”, Marieta Severo mergulha no lado B de São Paulo
Primeira atriz a vencer o troféu Oscarito em 2002, Marieta Severo volta pela primeira vez a Gramado depois da honraria histórica. E volta na disputa pelo Kikito: em “A Voz do Silêncio”, longa-metragem dirigido por André Ristum que abriu a competição da 46ª edição do Festival de Cinema de Gramado, Marieta interpreta uma mulher submersa em culpa depois de ter rejeitado o filho. O filme descortina as razões para a atitude e apresenta a personagem que, com problemas psíquicos, precisa lidar com um estado emocional e mental muito particular.
A personagem integra um mosaico de histórias cotidianas onde o diretor André Ristum, premiado pelo júri popular em Gramado no ano de 2015 com “O Outro Lado do Paraíso”, radiografa a imensa cidade de São Paulo a partir de um viés que Marieta considera muito corajoso: “Como carioca, conheço apenas a São Paulo versão grande metrópole, com uma vida cultural intensa e repleta de programações, mas o filme apresenta a capital com uma poesia dura, buscando as pequenas batalhas dos lados B, C, D e E dessa população. É um trabalho que se distancia de qualquer experiência de impacto fácil e imediato. Você precisa assistir e digerir”.
Quando entrou em contato pela primeira vez com o roteiro, também escrito por Ristum, a atriz diz ter se encantado com a dramaturgia sólida de uma obra que tem uma estrutura pulverizada, já que a história é contada a partir de diferentes núcleos praticamente isolados. “Claro que estava no roteiro, mas o André nos deu a perspectiva que amarraria todas essas histórias. Os núcleos são trabalhados separadamente, mas tivemos temporada produtivas e objetivas de preparação. Por minha conta, mergulhei muito no arcabouço psíquico da personagem que interpreto, movida pelo desejo de ajudar a contar uma história. No final das contas, é isso o que me aproxima de um roteiro”.
Jesuíta Barbosa sobre “O Grande Circo Místico”: “um desafio que eu queria e lutei para conquistar”
Cinco anos atrás, Jesuíta Barbosa chegava assustado na Serra Gaúcha. Não por menos: em início de carreira, o ator exibia em Gramado o premiado “Tatuagem” (Kikitos de melhor filme, ator para Irandhir Santos e trilha musical, além do prêmio de melhor filme pelo júri da crítica), um de seus primeiros trabalhos no cinema. “Fiquei impactado com esse Festival tão grande, que as pessoas tanto desejam, onde todo mundo quer tirar foto com os artistas e diretores”, lembra o jovem ator, que, ao longo desses cinco anos, se firmou como um dos intérpretes mais aclamados e disputados de sua geração. “Muita coisa mudou desde aquela exibição de “Tatuagem” aqui em Gramado – eu fui morar no Rio de Janeiro, fiz televisão -, mas percebo que, apesar das transformações da cidade, o Festival preservou sua tradição, mantendo-se muito forte no cinema brasileiro”, conta.
Agora, em “O Grande Circo Místico”, Jesuíta é dirigido pelo mestre Cacá Diegues, que também marcou presença em Gramado para a primeira exibição do filme, abrindo a programação oficial desta edição. Habituado a trabalhar com célebres diretores brasileiros – entre eles, Karim Aïnouz (“Praia do Futuro”), Heitor Dhalia (“Serra Pelada”) -, o ator diz ter vivido uma experiência nova com Cacá, um cineasta que, segundo ele, “tem plena segurança no que faz e sabe defender muito bem cada ideia com uma condução muito tranquila”. Mais do que isso, esse é um projeto que Jesuíta decidiu abraçar, tanto por afinidade quanto por necessidade: “Eu estava muito pesado, e precisava de um personagem mais leve, com uma energia de espírito muito mais zen para enxergar a vida, os anos, as transformações. Celavi [o personagem] me trouxe uma outra nuance de atuação”.
Filmado em um circo montado especialmente para o projeto no interior de Portugal, “O Grande Circo Místico” desembarcou em Gramado após a sua primeira exibição no prestigiado Festival de Cannes em maio. E a primeira sessão nacional do longa trouxe para Jesuíta uma perspectiva diferente do período de gravações, que aconteceram, segundo o ator, cerca de 80% dentro do circo que dá título à história. “Aqui em Gramado saí da zona de narciso e parei de me observar. Talvez pela primeira vez tenha visto o trabalho como um todo, pela ótica de uma pessoa que está contando uma história. ‘O Grande Circo Místico’ era um desafio que eu queria e lutei para conquistar”. O longa tem estreia prevista no circuito comercial brasileiro para o dia 15 de novembro.
PROGRAMAÇÃO 46º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO
Domingo, 19 de agosto
:: 16h30min – Debate curtas gaúchos
Sala de Debates – Hotel Serra Azul
:: 16h30 – Cinema nos bairros
“Malasartes e o duelo com a morte”, de Paulo Morelli
Comunidade terapêutica Vale a pena viver
:: 18h – Mostras competitivas
CMB | Plantae, de Guilherme Gehr
CMB | Majur, de Rafael Irineu
LMB | Mormaço, de Marina Meliande
PREMIAÇÃO | Troféu Assembleia Legislativa aos melhores curtas gaúchos
Palácio dos Festivais